Ao longo da história, é recorrente o tema da mudança, da fluidez. Antes de Cristo, já o filósofo Heráclito afirmava que não existe uma realidade estática, nem mesmo estável. A ideia de transformação aparece na imagem, por ele criada, de que não podemos descer duas vezes ao mesmo rio, não somente porque o rio já não é o mesmo, mas também porque nós não somos os mesmos.
Hoje, a velocidade do rio que nos leva pela vida é intensa, quase incontrolável. O que é hoje não permanecerá o mesmo amanhã e será totalmente diferente no futuro. A adoção de novas tecnologias e a introdução de novos produtos são constantes, quase diárias. Os conhecimentos crescem, de forma incontrolável, em um turbilhão. Como dominá-los?
A saída, preconizada por tantos artigos e discursos, é utilizar a própria tecnologia, mutante e veloz, como remédio. Usar Internet para transmitir aulas e tablet para armazenar centenas de textos e informações. Tecnologia para dominar e facilitar a apreensão do fluxo contínuo de descobertas, inovações, novos conhecimentos. São as melhores soluções?
Para a resposta, precisamos analisar o cerne da questão: o que é a educação, qual o papel essencial de um educador.
Certamente, pode-se afirmar que o educador não é um mero transmissor de conhecimentos. É claro que o aluno deve dominar conhecimentos, mas os essenciais que, uma vez apreendidos, serão a base para a aquisição dos demais. Nessa transmissão seletiva e orientada de conhecimentos, recursos das tecnologias podem ser usados, como ferramentas do professor e não como condutores da forma de apreensão do saber. Mas o sucesso desse processo de ensino não garante o êxito do processo educacional, já que o papel do educador não se restringe a transmitir, mesmo os conhecimentos essenciais.
Também, o educador não é um solucionador de questões sociais, como se a mera introdução de um diferente na sala de aula seja suficiente para resolver o problema da inclusão. A introdução forçada de um deficiente em uma sala de aula, vai incluí-lo ou aprofundar sua exclusão? Simplesmente colocar um surdo numa sala de ouvintes, com o professor dando aulas expositivas, vai fazer a mágica de ele entender e apreender? Se não forem tomadas medidas para efetiva inclusão do deficiente auditivo, o resultado é conscientizá-lo de que é diferente, de que vive num mundo que não é o dele. Num mundo em que não se respeita o outro.
Além disso, o educador não é um solucionador de questões econômicas, como se o objetivo último da escola fosse formar o ser produtivo, um trabalhador que se encaixe na máquina de produção de bens para a sociedade. Dar ao aluno as bases que necessita para empregar-se, sem reflexão e sem conhecer os valores inerentes ao trabalho, é adestrar, é formar autômatos.
Da mesma forma, não se pode culpar um professor por não contribuir para a reversão da tendência para as drogas e a violência. Quais as armas que se lhes dá para tanto? Até que ponto é lhes cobrado o ato de educar uma criança? Como é medido o desempenho de um professor? Não é o nível de acertos de seus alunos, em testes de conhecimentos? Qual o tempo que lhes é dado simplesmente para transmitir valores, ética, respeito pelo outro?
É preciso repensar a educação, mas como tarefa de educadores que foram formados num processo diferente da mera soma de conhecimentos em diferentes áreas. Educadores que não simplesmente deem aulas, mas que saibam ensinar e tenham a sensibilidade de aprender com seus alunos. Educadores que reconheçam a importância dos valores intrínsecos de uma sociedade. Educadores que valorizem a cultura e a tradição de seu povo. Educadores que enalteçam o que é a essência de cada pessoa, enquanto indivíduo e ser social. Educadores que saibam identificar o que é perene num mundo que flui e se transforma.
Walter Vicioni
